O jornal norte-americano The Washington Post publicou, nesta segunda-feira (18), uma entrevista exclusiva com Alexandre de Moraes. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) comentou as sanções dos Estados Unidos e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcado para 2 de setembro.
A reportagem revela que Moraes assistia a uma partida do Corinthians pela televisão quando decidiu decretar a prisão domiciliar de Bolsonaro. O momento de repouso foi interrompido por uma enxurrada de mensagens no celular, informando que o ex-presidente havia descumprido medidas cautelares durante as manifestações de 3 de agosto.
Moraes contou ao Washington Post que o jogo “não era particularmente bom, mas era uma distração útil” das sanções da Lei Magnitsky, impostas pelo governo dos Estados Unidos em 30 de julho.
Naquele domingo, o Corinthians empatou com o Fortaleza por 1 a 1 na Neo Química Arena, em São Paulo. Moraes determinou a prisão de Bolsonaro no dia seguinte, sob justificativa de que o ex-presidente violou a restrição de acesso às redes sociais.

No mesmo dia em que foi alvo da Lei Magnitsky, em 30 de julho, o ministro foi à Neo Química Arena ver seu time do coração jogar contra o Palmeiras. Ele causou polêmica ao mostrar o dedo do meio para torcedores que o insultaram das arquibancadas.
Moraes dobra a aposta no julgamento de Bolsonaro: ‘Investigação vai continuar’
Apesar das tarifas e sanções do governo Trump, Alexandre de Moraes deixou claro que não vai desistir do julgamento da suposta tentativa de golpe de Estado.
“Não há a menor possibilidade de recuar um milímetro sequer”, declarou ao Washington Post neste mês. “Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as evidências, quem deve ser condenado será condenado e quem deve ser absolvido será absolvido”.
“Enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar”, concluiu.

O jornal norte-americano entrevistou 12 amigos, colegas e ex-colegas para traçar a trajetória de Moraes, que “ascendeu de uma origem comum de classe média comum para se tornar o jurista mais poderoso da história do Brasil”. A reportagem chega a descrevê-lo como “xerife da democracia”.
As fontes próximas a Moraes revelaram que ele sempre almejou se tornar ministro do STF. Alguns expressaram preocupação com seu poder crescente, desde que liderou o inquérito das fake news e assumiu a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“A investigação deveria ser limitada em tempo e escopo”, disse um membro do Judiciário que não teve a identidade revelada. “Mas nunca acabou e ninguém mais o questiona”.
“Foi uma investigação que, a meu ver, foi iniciada de forma errada”, opinou Marco Aurélio Mello, ex-ministro do STF crítico de Moraes.
Moraes culpa Eduardo Bolsonaro pela Lei Magnitsky e expressa admiração pelos EUA
A matéria do Washington Post diz que Moraes é um “vilão global” aos olhos do governo estadunidense, mas ele nega qualquer antipatia com o país. Na porta do escritório do ministro, está pendurado o preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos.
“Todo constitucionalista tem grande admiração pelos Estados Unidos”, afirmou.

Ele disse que as sanções norte-americanas “não são agradáveis” e culpou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelo desgaste com o governo Trump.
“Essas narrativas falsas acabaram por envenenar a relação – narrativas falsas sustentadas por desinformação disseminadas por essas pessoas nas redes sociais”, aponta. “Então, o que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas”.